Perdemos a capacidade do entendimento através da discussão de ideias. Este caminho já não é mais percorrido, pelo menos no momento atual, onde parece que todas as mazelas do mundo se acotovelam, procurando um lugar de destaque no meio de todos nós. Temos a sensação de que tudo está distribuído entre o politicamente correto e o desgraçadamente errado. Não existe meio termo.
Isso tem se verificado em todos os segmentos, e não vemos possibilidades de mutações significativas, embora estejamos sempre agarrados a um fio de esperança de que tudo se resolverá para a plenitude da harmonia entre as pessoas.
O momento atual do Rio de Janeiro é a explosão de pequenas ações delituosas que não cuidamos lá atrás e agora a conta chegou. O morro não desceu, mas, ficou aprisionado, a mercê do banditismo, sob o olhar inerte do Estado, que pouco tem feito para equacionar o problema, mesmo porque isso não está no topo das prioridades dos senhores políticos e autoridades constituídas.
Quando abdicamos de uma política embasada numa educação de qualidade, formando indivíduos cognitivos e coerentes, abrimos mão da saúde, da segurança e do bem-estar social.
Vemos nesse momento frágil o interesse pelas luzes dos holofotes da hipocrisia brilhar mais do que nunca. Cada um se exime do seu dever, transferindo para o adversário uma responsabilidade que a todos compete. Os integrantes dos três poderes se revezam na arte do narcisismo. Suas tribos se autobloqueio com o máximo de artimanha que é possível.
Por outro lado, a população também tem a sua parcela de culpa. Ela não é a vítima isolada do holocausto social na versão brasileira. No percurso secular da nossa história estamos sempre coadjuvando com malfeitores em defesa de uma ideologia hipócrita e idiota, também perversa e nefasta. Um exemplo claro dessa triste realidade é a complacência hipotecada ao longo de décadas aos bandidos do colarinho branco, somente agora um pouco incomodados com as ações da Operação Lava-Jato, isso por pouco tempo, porque já se vê uma ação deliberada para tentar incriminar um servidor do MPF, ex-procurador, que ousou enfrentar as ratazanas poderosas da nossa República de mentiras. Como querer passar um recado para os futuros procuradores, já estão arquitetando retaliações de toda espécie ao que ora se retira da chefia da procuradoria, bem como já temos sinais de que muita coisa mudará, para pior, quando se trata de apurar atos criminosos dos medalhões de República. Estancar a sangria é preciso, no conceito dos mafiosos.
“Narciso acha feio o que não é espelho”. Todos se vangloriam de seus feitos e ações. O proselitismo campeia e o corporativismo dá o tom. Estamos perdidos, no meio de uma turbulência social, que está eclodindo em seu pico. Tomara que essa sangria, realmente essa, seja estancada. É triste constatarmos que o Brasil de amanhã caminha a passos largos para se tornar o Rio de hoje.
Tudo hoje acontece no alto escalão da política brasileira, tendo um povo dopado pela substância do ódio, da discriminação, da intolerância, e, sobretudo pelo recrudescimento da dicotomia instalada, onde não existe uma terceira opção de pensamento. Ou você é de Direita ou de Esquerda. Na falta de opções, já estamos querendo usar mão de instrumentos do tipo intervenção militar, numa clara aceitação de tudo que está aí não interessa a ninguém. A sociedade, mesmo em minoria, busca desesperadamente uma alternativa outra, mesmo não conhecendo, nenhum pouco, as entranhas de uma ditadura. Crucificam as ditaduras dos países vizinhos, mas já aceitam uma para nós. Que paradoxo tolo!
Fico na torcida para que o atual momento de letargia do povo seja apenas um modismo passageiro. Se voltarmos a um momento não longínquo, lembraremos de um Presidente que foi impichado simplesmente porque recebeu, de presente, um automóvel “Elba”. Imagina o paralelo! Se adotássemos o mesmo entendimento para os dias atuais, teríamos que aceitar a pena de morte como o castigo máximo para delitos corruptos. Mas não, estamos aceitando até falcatruas desnudas, como que envergonhados em nos reposicionarmos diante dos fatos.
A Rocinha virou campo de guerra entre traficantes. As maiores vítimas desse absurdo são as famílias de bem que lá moram, não por escolha e sim por falta de alternativa melhor, pois o pensamento político nem a ordem socioeconômica não as colocaram nas prioridades de governo.
A base de tudo é a educação. Isso é tão elementar e de fácil aplicação, que nos dá a convicção de que maldosa e interessadamente tudo conspira contra essa assertiva.
Os “narcisos” vão continuar achando feio tudo que não for espelho se não tomarmos as rédeas desse processo através de atitudes corajosas e desvergonhadas de nos contrapormos a esse estado de calamidade e de falta de caráter na política brasileira, não aceitando que nos governem aqueles que tenham mácula em sua vida pregressa mesmo que do tamanho de uma semente de girassol. Pensar de outra maneira é levar o problema adiante até que apareça uma geração menos medíocre de que as atuais.